Testemunho de um seminarista
agosto 05, 2017
"Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado, e te havia designado profeta das nações." (Jeremias 1, 5)
Meu nome é Fábio Donizetti Ribeiro, tenho 31 anos, atualmente sou seminarista da Diocese de Lins, SP; curso o 3º ano de Teologia pela Faculdade João Paulo II (FAJOPA), em Marília, SP. Antes de adentrarmos no meu testemunho vocacional, talvez seja importante perceber a ação de Deus em minha vida antes mesmo do meu nascimento, observando assim um chamado que brota já do coração de Deus, antes mesmo de sermos gerados.
Em certa ocasião, em num longo período de estiagem, minha mãe e sua cunhada estavam em uma procissão em Cruz das Posses (Sertãozinho), SP, onde, como o costume da piedade popular, jogariam água em um cruzeiro que ficava fora da cidade, como um ato penitente ao Senhor, pedindo chuva, pois a seca já castigava o meio ambiente, causando problemas respiratórios na comunidade local. Exaustas da caminhada, mas ainda em procissão, minha mãe disse a minha tia que sentia dor nos seios. Preocupada, minha tia perguntou a minha mãe se ela não estaria grávida e, assustada, disse que não poderia ser verdade, pois após seu segundo parto o médico a havia advertido que seria considerada de risco uma nova gravidez, devido à fragilidade de sua saúde. Minha mãe procurou o médico, que confirmou sua gravidez. Foram feitos acompanhamentos, ultrassons, exames. A gravidez durou oito meses, sendo necessários, nos quatro últimos, repouso e cuidados, pois eu estava prestes a perder a vida.
No dia em que fora realizar o parto, o médico procurou meu pai, e pediu que ele escolhesse entre a vida de minha mãe e minha. Aflitos, e sem esperança de sucesso no parto, através de uma desconhecida, meus pais ouviram falar do Servo de Deus Padre Donizetti Tavares de Lima, de Tambaú, SP: um homem de muita fé, que havia sido um instrumento de Deus, e transformou muitas vidas. Com grande fé e amor, pediram sua intercessão em uma oração simples, prometendo que, se o Servo de Deus intercedesse por eles, fazendo com que sobrevivessem a mãe e o bebê, seria dado a ele o nome de Donizetti, em gratidão e homenagem ao padre.
Quando o médico perguntou no final da tarde - mais uma vez - ao meu pai, quem ele queria que sobrevivesse, ele escolheu os dois. O médico, preocupado, afirmou-lhe que o risco era altíssimo e que os dois poderiam vir a perder a vida. Mesmo assim, meu pai optou pela vida de ambos. Durante o parto, meu pai rezava constantemente pedindo a intercessão do Padre Donizetti, para que não permitisse que a minha mãe ou eu viéssemos a óbito. No dia 23 de Junho de 1986 por volta das 9 horas e 40 minutos, no Hospital São José, em Sertãozinho, SP o médico volta da sala de parto com semblante assustado, e com um sorriso nos lábios, dando a notícia de que o parto havia ocorrido muito bem, e que nada havia acontecido à criança ou à mãe.
Com tempo, eu ia crescendo com saúde e, por volta dos sete anos de idade, comecei a ir sozinho a Igreja, que ficava em frente à minha casa. Todos os domingos era sagrado participar da Santa Missa. Vendo meu amor para com as coisas de Deus, o padre da paróquia convidou a mim e a um amigo para sermos coroinhas. É aqui onde o Senhor tocou profundamente meu coração. Desde então, todas as minhas “brincadeiras” se voltavam para as coisas de Deus. Quando ia brincar com os amigos, sempre queria ser o padre. Na casa dos vizinhos, chegava a pegar os lençóis e os usava como túnicas; copos de plástico como cálice, pão como a Eucaristia, e o suco de uva como o sangue do Senhor, e, na inocência de criança, “celebrava a missa”. Engajado na comunidade local, comecei a participar de terços, novenas e todas as missas das quais podia participar. Os anos foram se passando, e cada vez mais Deus ia tocando meu coração. Pelo caminho, durante o período da adolescência, tornei-me acólito, colocando-me mais uma vez a serviço do Senhor. Encontrei inúmeros desafios que muitas vezes me tentavam a desistir. Porém, jamais deixei que se apagasse em mim a chama da fé, que Deus havia acendido em mim desde criança. Conforme ia amadurecendo, misturava-se dentro de mim um turbilhão de sentimentos inexplicáveis. Embora não compreendesse muitas coisas, silenciava o coração, como a Virgem Maria - minha grande inspiração -, e continuava meu caminho de fé sem desistir.
Após terminar o colegial pude trabalhar. Formei-me em Administração de empresas, e durante o curso trabalhava como estagiário em uma agência bancária, na qual, ao término do estágio, fui promovido a gerente. Mesmo diante disso, ainda em meu coração havia o desejo e as lembranças vivas, como um suntuoso mistério entre Deus e eu. Tudo se convergia para a vontade de Deus - a algo que eu jamais poderia explicar. Encontrei pessoas, situações e vivências que sempre me direcionavam para as coisas de Deus. Todos os dias, na hora do almoço, ia rezar na Igreja Matriz Nossa Senhora Aparecida (Sertãozinho, SP), onde meus pais se casaram. Ali permanecia pelo menos uma hora, todos os dias, conversando com Jesus. Eu chorava, “brigava”, silenciava e rezava com Ele e para Ele. Aquele turbilhão de sensações aos poucos retomava meu coração, e, estando no trabalho, ao meditar a Palavra de Deus, li: “E tu, menino, serás profeta do Altíssimo, pois irás andando a frente do Senhor para aplainar e preparar os seus caminhos, anunciando ao seu povo a salvação que está na remissão de seus pecados” (Lucas 1, 76-77). Tais palavras me deixaram inquieto e fizeram-me questionar qual seria a minha vocação, afinal me sentia chamado. Só de olhar um sacerdote celebrando a Eucaristia, por exemplo, já era um grande motivo de emoção: os olhos lacrimejavam e meu coração saltava em meu peito, era como um sinal de um sim desejoso e sincero que deveria ser dado. Hoje estou na pura graça do próprio Deus, que me conduziu amorosamente, não pelos meus próprios merecimentos, mas por sua infinita bondade e misericórdia.
Por isso, eu, Fábio Donizetti Ribeiro, dou testemunho do dom da minha vida e vocação, de forma especial pela intercessão do Padre Donizetti Tavares de Lima. Quero, com minha vida, dar continuidade aos planos de Deus e tomar como exemplo maior o próprio Jesus Bom Pastor, bem como a vida do padre Donizetti, cujo amor e fidelidade a esse mesmo Jesus e à Sua Igreja, o fizeram testemunha viva da ação e da graça de Deus entre os homens.
Se você se sente chamado por Deus ao ministério presbiteral, não tenha medo. Reze, acredite, confie e permita que Deus seja Deus na sua vida. Ouça as palavras de Jesus: “Vem e segue-me!” (Mt 19, 21) e se deixe guiar por Aquele que te chama, pois Ele te ama e poderá fazer da sua vida uma oferta agradável, transformando corações e conduzindo muitas ovelhas à salvação eterna. Observe os sinais; Deus falará de vários modos, seja através da sua própria vida ou através da vida de outras pessoas. O importante é estar atendo a voz do Senhor que tem um chamado a cada um de nós. Qual sua vocação?
Marília, 01 de Agosto de 2017 – Mês Vocacional
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